Exercício Físico e Saúde Mental: Evidências Científicas Sobre Sono, Estresse e Bem-Estar
A relação entre exercício físico e saúde mental vai muito além do bem-estar momentâneo. Evidências científicas mostram como o movimento influencia o estresse, o sono e processos biológicos ligados à mente. Neste artigo, exploramos o que a ciência já sabe sobre essa conexão.
Mateus Acioli
12/13/20254 min read
1. Exercício físico, sistema nervoso e regulação do estresse
A prática regular de exercício físico provoca respostas neurobiológicas que impactam diretamente o funcionamento do sistema nervoso central. Entre essas respostas, destaca-se o aumento da liberação de neurotransmissores associados ao bem-estar, como serotonina, dopamina e endorfinas, que desempenham papel relevante na modulação do humor e na redução de sintomas depressivos e ansiosos.
Além disso, o exercício influencia o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), principal sistema envolvido na resposta fisiológica ao estresse. Esse eixo regula a secreção do cortisol, hormônio fundamental para a adaptação ao estresse, mas que, quando cronicamente elevado, está associado a prejuízos emocionais, distúrbios do sono e maior risco de transtornos mentais.
Revisões sistemáticas apontam que indivíduos fisicamente ativos tendem a apresentar melhor regulação do eixo HPA, com respostas hormonais mais equilibradas frente a estímulos estressores quando comparados a indivíduos sedentários (MEIER et al., 2022). Embora o cortisol possa aumentar de forma aguda durante o exercício, esse aumento é considerado fisiológico e transitório, diferindo do padrão observado em estados de estresse crônico.
Esses achados sustentam a hipótese de que a atividade física regular contribui para uma resposta adaptativa ao estresse, favorecendo maior estabilidade emocional ao longo do tempo.
2. Sono, exercício físico e saúde mental
O sono é um dos pilares da saúde mental, e sua relação com o exercício físico tem sido amplamente investigada. Distúrbios do sono estão associados a maior prevalência de ansiedade, depressão e alterações cognitivas. Evidências científicas indicam que a prática regular de atividade física está relacionada à melhoria da qualidade do sono, incluindo maior eficiência, menor latência para adormecer e redução de despertares noturnos.
Uma revisão sistemática com meta-análise demonstrou que programas de exercício físico estão associados à redução dos níveis basais de cortisol e à melhora de desfechos relacionados ao sono, sugerindo uma interação direta entre regulação hormonal e qualidade do descanso noturno (MEIER et al., 2022).
Esses resultados indicam que o exercício pode atuar de forma indireta sobre a saúde mental ao regular o ciclo sono-vigília, reduzindo a hiperativação fisiológica e favorecendo processos de recuperação neural e emocional. A literatura também sugere que a melhora do sono contribui para a diminuição da reatividade emocional e do estresse percebido, criando um ciclo positivo entre movimento, descanso e bem-estar psicológico.
3. Exercício físico, ansiedade e depressão
A associação entre exercício físico e redução de sintomas de ansiedade e depressão é consistente na literatura científica. Estudos publicados em periódicos de alto impacto indicam que indivíduos fisicamente ativos apresentam menor prevalência de sintomas depressivos quando comparados a indivíduos sedentários.
Uma grande análise publicada no JAMA Psychiatry mostrou que diferentes volumes e intensidades de atividade física estão associados a menor risco de depressão, inclusive em populações com histórico de transtornos mentais (CHEKROUD et al., 2022). Os autores destacam que os benefícios não se restringem a exercícios intensos, sendo observados também com atividades de intensidade leve a moderada.
Revisões narrativas e sistemáticas também apontam que o exercício influencia fatores psicológicos e comportamentais relacionados à saúde mental, como percepção de autoeficácia, redução de ruminação cognitiva e melhora da autoestima (REBAR et al., 2021). Esses efeitos, combinados às adaptações neurobiológicas, ajudam a explicar o impacto positivo do movimento sobre quadros de ansiedade e depressão.
4. Quantidade de exercício e saúde mental: o que mostram as evidências
As recomendações atuais de atividade física para adultos indicam a realização de pelo menos 150 minutos semanais de atividade física moderada ou 75 minutos de atividade vigorosa, valores amplamente utilizados como referência em estudos epidemiológicos e clínicos.
Pesquisas que investigam especificamente a relação entre exercício e saúde mental observam que esse volume semanal está associado a melhor humor, redução de sintomas depressivos, menor estresse percebido e melhora da qualidade do sono (CHEKROUD et al., 2022; MEIER et al., 2022). Esses achados sustentam a adoção dessas recomendações como um parâmetro mínimo para benefícios psicológicos mensuráveis.
Embora estudos indiquem que volumes maiores de exercício podem gerar benefícios adicionais, a literatura aponta que ganhos relevantes para a saúde mental já são observados dentro desse intervalo recomendado, reforçando sua relevância clínica e populacional.
Conclusão
As evidências científicas indicam de forma consistente que o exercício físico exerce efeitos relevantes sobre a saúde mental, atuando em múltiplos níveis fisiológicos e psicológicos. A prática regular de atividade física está associada à modulação do sistema nervoso, à regulação do eixo de estresse, à redução dos níveis de cortisol e à melhoria da qualidade do sono.
Além disso, estudos observacionais e ensaios clínicos demonstram associação entre exercício e menor prevalência de sintomas de ansiedade e depressão, tanto em populações saudáveis quanto em indivíduos com transtornos mentais leves a moderados. As recomendações atuais de 150 minutos semanais de atividade física moderada encontram respaldo consistente na literatura como um volume associado a benefícios psicológicos significativos.
Em conjunto, esses achados reforçam o papel do movimento como um componente essencial da saúde mental, integrando aspectos biológicos, hormonais e comportamentais.
Se você quiser mais informações sobre como integrar o exercício à sua vida de maneira segura e eficaz, ou deseja explorar mais profundamente a relação entre o movimento e outros aspectos da saúde mental, siga o blog para artigos futuros.
Referências
CHEKROUD, S. R. et al. Association between physical exercise and mental health in 1·2 million individuals in the USA. JAMA Psychiatry, v. 79, n. 2, p. 120-128, 2022.
MEIER, L. L. et al. Effects of physical activity on cortisol and sleep: a systematic review and meta-analysis. Psychoneuroendocrinology, v. 142, 105823, 2022.
REBAR, A. L. et al. A meta-meta-analysis of the effect of physical activity on depression and anxiety in non-clinical adult populations. International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity, v. 18, n. 1, 2021.
SØRENSEN, J. K. et al. Physical activity, mental health and sleep: mechanisms and clinical implications. Nutrients, v. 16, n. 11, p. 1741, 2024.
SANDERSON, W. C.; SCHULZ, R. Physical activity and mental health. New York: Springer, 2017.
